Haja paciência

19-02-2011 21:34

Colegas Radioamadores:


Como Radioamador que sou, escrevo este pequeno desabafo para com aqueles que partilham a minha opinião, e para outros tantos que provavelmente nem irão entender o que direi nestas palavras.
Sou Radioamador há vários anos, não há tantos assim que me permitam ter um indicativo começado pelas primeiras letras do alfabeto. Sou “do tempo” da Banda do Cidadão, tendo “migrado” para as bandas de Amador não por convicção, mas por “arrasto”. Não me sinto frustrado por ter “passado” para as bandas de Amador, mas confesso um pequeno arrependimento por o ter feito, iludido por uma mão-cheia de colegas que me fizeram acreditar que estas bandas eram “diferentes”.
Não tenho formação académica superior, nem sou filho de doutores, mas tenho de dizer que acho triste e mesmo ridícula a forma como alguns Amadores falam no “éter” e já agora a forma como escrevem na Internet. Esta forma de estar deixa muito a desejar quando tanto se fala na “dignificação do hobby”!
Somos Amadores e não passaremos disso… somos faladores e maus… somos colegas, mas só na “vertical”, somos organizados, mas só no papel…
Quando há alguns anos eu comecei a pensar e ficar cada vez mais com a convicção que a maioria dos Radioamadores não prestavam, sendo uma percentagem elevada de ignorantes, uma outra de conflituosos e arruaceiros e só um pedacinho deles com interesse… pelos vistos não me enganei…
Não consigo compreender que, um colega que “suba” à frequência e diga “deltas” em vez de “desculpas”, seja logo criticado, quase que chacinado, muitas das vezes por colegas que fazem bem pior, limitando-se a criticar e cuspir no microfone e que depois vão para as “directas” com piadinhas sem propósito, algumas delas mesmo obscenas e vão também para os sites de Radioamadorismo dar pontapés atrás de pontapés no Português! Será que o Radioamador, enquanto pessoa que investiga e desenvolve a técnica, não é capaz de desenvolver a sua capacidade pessoal, intelecto e também uma correcta conduta e forma de estar? Onde está o nosso brio? Onde está a dignificação do nosso hobby e das pessoas? Onde está a diferença entre Cebeísta e Radioamador? Afinal quem não presta não presta, seja numa banda, seja na outra, seja na estrada seja na rua, seja no “éter”… vai de mal a pior…
Vergonha a minha quando há pouco tempo sugeri a um potencial interessado nas radiocomunicações amadoras, que visitasse o site “radioamadores.net” para se começar a ambientar e ter algum contacto com aquilo que é o Radioamadorismo… e passados alguns dias, sou surpreendido com a seguinte pergunta da sua parte: “Daniel, mas será que estas pessoas não sabem escrever? Como vão saber falar? Será que faço bem em começar este hobby?”. Pior que isso, quando fizemos um pouco de escuta nos repetidores nacionais de VHF e UHF, o que ouvimos? Colegas a tratarem-se mal, ameaços físicos, asneiras, música, portadoras… enfim… de tudo um pouco desta chafurdice que começa a ser cada vez mais “o pão-nosso de cada dia”…Não me restou outra alternativa senão baixar a cabeça e dizer… “pois… infelizmente é assim”
Por estas e por outras, não consigo reconhecer qualquer legitimidade a uma grande maioria daqueles que tanto criticam nas bandas e quando pegam no microfone, na caneta ou no teclado, são uma verdadeira vergonha para todos nós…
Cada vez mais é para minha tristeza quando vejo que grande parte dos Radioamadores não passam de colegas sem formação, sem informação, sem interesse, sem valores, arruaceiros e conflituosos, onde o único lugar que encontraram e foram aceites, é no “éter”, atrás de um microfone… aí sim, nem que não saibam falar e estar, alguém os terá de ouvir!
Mais uma vez digo… não sou filho de doutores, não tenho formação académica superior, mas faço um esforço para poder dar uma boa imagem do Radioamadorismo e dos Radioamadores.
Não quero de alguma forma com este artigo, ferir seja quem for, até porque nem todos podem ser aquilo que desejariam, mas tenho a certeza que a maioria dos colegas podia ser um pouco melhor, tanto na escrita como em frequência.
Vejo folhas “log” de concursos a serem entregues em pedaços de papel, escritas a vermelho, incompletas… vejo QSO’s sem qualquer preocupação por quem está a ouvir, afastando os que se pretendem juntar ao hobby inclusivamente as senhoras e crianças.
Infelizmente, quase que não me é possível trazer o rádio de Amador ligado na viatura quando a minha família está presente... pois tenho medo de a qualquer momento ser presenteado com uma bojarda qualquer de um javardo com um microfone…
Uma grande parte das conversas, têm sempre de ter uma pitada de machismo ou “bitaites” sobre esta ou aquela… Por vezes alguns QSO’s parecem servir até para uma grande parte frustrados provar a sua virilidade através de provocações e comentários menos próprios…Serão a maioria dos Radioamadores uma cambada de depravados, doentes mentais e delinquentes? Ouvem-se constantemente ameaços de pancada, provocações, portadoras intencionais… seremos nós uma classe de arruaceiros?
É raríssimo encontrar um QSO de qualidade, com tema, sem provocações, sem falar mal de fulano ou sicrano, sem falar da mini-saia da menina que vai a passar, sem dizer que está um lindo sol e que com o calor as coisas começam-se a “descascar”, e o que é bom é para se ver.
Após uma pesquisa mais cuidada na Secção de “Trocas e Vendas” do conhecido Site “radioamadores.net”, vejo que uma grande maioria dos Radioamadores, além de não se saberem comportar em frequência, não passam também de analfabetos imbecis, camuflados com indicativos rádio que nem sequer escrever sabem. Os “bons” radioamadores costumam dizer… “se não sabem… não falem”… agora digo eu… “se não sabem, não escrevam”… Se são capazes de pedir a um colega para ajudar a afinar uma antena, uma cavidade, seja o que for, peçam também a alguém para corrigir os textos antes de os publicarem. Pior que tudo, até na Internet há picardias entre Radioamadores!
Por todas estas e mais algumas, tenho cada vez mais de dar o máximo valor e mostrar o meu reconhecimento àqueles que continuam a lutar contra esta maré poluída, que formam bons Radioamadores e que até incentivam crianças a ingressar neste hobby, que se não fosse esta poluição de pessoas mesquinhas e sem interesse, seria uma forma agradável de partilhar, aprender e desenvolver qualquer coisa de bom, mas, que para mim e no actual panorama, não passa em grande parte de um sítio onde os piores se encontrar e chafurdam na mesma pia.
Para mim, o que foi entusiasmo, passou a desinteresse, revolta, passando agora despercebido. Falo no rádio porque gosto de comunicar, mas sem o interesse dos “velhos tempos”, onde os operadores de rádio eram pessoas educadas, cordiais, correctas, partilhando apenas um prazer… o de comunicar.
O Radioamadorismo é cada vez mais um negócio e não um passatempo… é cada vez mais uma forma de exteriorizar frustrações pessoais e não de as colmatar, uma forma de desabafo javardo e não de troca de opiniões… muitas vezes até, uma forma de enaltecer o ego de cada um, e não de se enriquecerem do ponto de vista intelectual, enquanto seres pensantes que são…
As memórias das bandas de Amador nos meus equipamentos têm mais “skips” que outra coisa… porque não quero passar pela vergonha de parar numa dessas frequências quando vou com alguém ao meu lado… este é para mim o panorama triste que temos… claro que alguns dirão que estarei a ser pessimista ou mesmo derrotista, mas não me resta outra alternativa senão o QRT quase sistemático.
Àqueles que me ajudaram, me apoiaram, ensinaram, entusiasmaram e deram longas horas de boas comunicações rádio, que me ajudaram a passar mais depressa uma viagem ou a preencher um momento de tédio… o meu bem-haja… aos que estragam, conspurcam e destroem as bandas de comunicações amadoras, às entidades oficiais que mais parecem estar a ser guiadas por interesses, não nos passando o mínimo de “cavaco”, reservando o seu tempo de operação e actuação para as licenças milionárias de telefonia dos operadores móveis, não posso deixar de sentir a minha legítima revolta e pesar por tão grande incompetência e irresponsabilidade.
Podemos mudar o significado de algumas siglas, podendo quem sabe “CT” passar a ter o significado de “Cambada de Terroristas” ou “Comunicações da Treta”.



Cumprimentos respeitosos

Daniel Leitão
CT2GXZ
Micróbio
joao.daniel.leitao@gmail.com