Nível de migração para a TDT é baixo

07-12-2011 18:46

 

A pouco mais de um mês da data prevista para o desligamento de vários emissores e retransmissores de sinal analógico de televisão, a ANACOM reconhece finalmente que o nível de migração para a TDT é muito baixo, algo que venho alertando há muito tempo e que tem posteriormente sido confirmado por inquéritos.
 
Segundo a ANACOM, de um total estimado de 1,3 milhões de lares que serão afectados pelo fim das emissões analógicas, menos de 200 mil já mudaram para a TDT. Ainda segundo a ANACOM, dos 1,3 milhões de famílias, um milhão está na zona que terá que o fazer até 12 de Janeiro.
 
Tanto o número de famílias que já fizeram a mudança para a TDT como o número de famílias afectadas a 12 de Janeiro me parece exagerado. Estimo que a percentagem de lares que já recebem a TDT está ainda abaixo dos 10% (e não os 15% estimados pela ANACOM) e o número de famílias afectadas pelo “apagão” agendado para 12 de Janeiro será inferior a 1 milhão, pois importantes centros emissores que servem uma vasta população do litoral (Lousã, Monte da Virgem, Montejunto e Marão) não serão desligados a 12 de Janeiro.
 
Segundo Eduardo Cardadeiro, a venda de “descodificadores” está muito aquém do necessário para fazer a migração. Ainda segundo este administrador da ANACOM, aquela estima que cerca de 120 mil famílias residem em zonas onde só será possível receber o sinal digital por satélite, anunciando para breve a descida do preço do respectivo kit para cerca de 40 Euros.
 
Estes dados foram divulgados ontem durante o lançamento de nova campanha publicitária que custou 1,2 milhões de Euros e que já passa nas televisões (ver post anterior).
 
Perante esta realidade, o adiamento do “apagão” parece inevitável, como venho alertando há muitos meses, sem que nada tenha sido feito para o contrariar. E se isso vier a acontecer, a culpa não será dos consumidores, como alguns já pretendem fazer crer, mas sim de todos os responsáveis que durante anos afirmaram que tudo estava a correr bem, ignorando todos os sinais e alertas, deixando a TDT ao abandono! Que mais provas serão necessárias para que se proceda a um relançamento da TDT com uma oferta alargada de canais? Que forças ou poderes o impedem? São poderes democraticamente eleitos ou outros?
 
Mas mesmo perante esta realidade, tudo indica (espero estar enganado) que o Governo, em vez de tomar medidas, vai antes adoptar uma atitude de “esperar para ver”. Tal como informei há dias, o canal de notícias Euronews poderá vir a reforçar a TDT portuguesa, dependendo no entanto da evolução do “mercado” TDT. Ou seja, tudo aponta para que o Governo não vá “mexer” na TDT para já e, consoante a “adesão” dos portugueses, procederá ou não ao reforço do número de canais. Mas, se o eventual reforço de canais passar apenas pela Euronews será insuficiente e demasiado tarde.
 
Repito o que já disse em ocasiões anteriores e de que muitos portugueses já se deram conta. Há poderosos interesses a quem interessa que a Televisão Digital Terrestre não seja minimamente atractiva. Até aqui, todos os interesses têm sido tidos em conta menos os interesses dos telespectadores e consumidores. Uma eventual promessa vã de mais canais após o "apagão" de 2012 não passará disso, mais uma promessa, como tantas outras que não foram cumpridas! Se o switch-off for avante com esta oferta de canais, a Televisão Digital Terrestre ficará definitivamente parada no tempo.